sábado, 5 de outubro de 2013

SVD Angola - Nossa História

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A aceitação da missão de Angola foi o resultado dum processo que já vinha de longe. A fundação verbita em Portugal teve como preocupação primária a formação de missionários para a acção evangelizadora da Igreja. Os campos de prioridade missionária, dentro da melhor tradição da Congregação, tinham sido sempre assumidos após petição expressa dos organismos centrais da Igreja ou de igrejas locais. Esse espírito de abertura não excluía de todo em todo qualquer território. Circunstâncias várias vieram apressar uma decisão que se tornou quase inadiável: a assunção dum espaço de evangelização no antigo ultramar português.
Desde os primeiros meses do início da fundação no Tortosendo (Portugal), já o Pe. Caio de Castro, ao intentar reconhecimento e isenções fiscais, se vê confrontado com a delicada questão da não presença da Congregação em terras do ultramar. Disso informa Roma e dá a entender as conveniências objectivas da abertura, num futuro próximo, duma missão num dos territórios ultramarinos.
No fim do ano de 1964, o P. Adolf Spreti, assistente geral, encontrando-se de visita às nossas missões do Congo, incluíra também no seu périplo uma deslocação a Angola e Moçambique. Apreciaria localmente da viabilidade da deslocação da Congregação para aqueles territórios.
Uma vez em Angola, é-lhe proposto pela diocese de Luanda uma zona de periferia, carente de assistência religiosa e evangelização; com esse dados em mão regressa imediatamente a Roma e propõe ao Conselho Geral a assunção daquele território missionário. No ano seguinte, o Pe. Spreti, de visita a Portugal (19 de Fevereiro até meados de Março de 1965), abordou esse projecto com os responsáveis da Região portuguesa. O acolhimento positivo que de todos recebeu, deixou-o optimista.
Meses mais tarde, destinam-se já para aquele território um missionário experimentado do Congo, o brasileiro Pe. Elírio dal Piva e o Pe. Wilson Alves, também brasileiro, que estava a terminar o curso de Teologia na Alemanha, em Santo Agostinho.
Mas no mesmo ano o Pe. Elírio tinha as férias na sua terra natal. Antes ir as férias ele visita a Luanda e conhece o local da missão na região da Terra Nova.
O dia 20 de Março de 1966, foi a data aprazada para a cerimónia da entrega da cruz missionária aos dois confrades que iriam dar início à missão de Angola (Luanda). Tudo foi preparado cuidadosamente. Para presidir, foi convidado o núncio apostólico, Mons. Maximiliano de Furstenber; convidara-se igualmente um antigo missionário verbita de Moçambique, posteriormente ordenado bispo no Brasil, D. Manuel Konner, assim como o bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio.
Nesse dia concentrou-se praticamente toda a Região em Fátima. Vieram também os alunos das outras casas. As liturgias, acompanhadas por guiões apropriados, tiveram uma participação apreciada. Os espaços comuns do Seminário engalanaram-se com painéis alusivos à Congregação e à Missão de Angola.
Três dias depois, no dia 23 de Março, tomava o Pe. Elírio o avião com destino a Luanda. Um pouco mais tarde, no dia 27 de Abril, embarcava no “Infante D. Henrique”, o Pe. Wilson Alves com o mesmo destino.
Com a presença destes dois missionários, a missão angolana teve uma evolução positiva. A diocese de Luanda atribuiu-lhes a zona da Terra Nova, Cazenga, Ragel e Mosseques. Foi dessa forma que a Região portuguesa se estendeu às longínquas terras de África.
Até ao fim da década, a missão será reforçada com a ida doutros missionários de Portugal: Pe. Brito, Pe. Américo Gonçalves Ribeiro, Frt. Manuel Felgueiras e Ir. Gerardo Gaspar Esteves. Nos primeiros meses de 1974, antes do 25 de Abril, abriu-se ainda a missão de Caungula, distante de Luanda cerca de 800 km.
Após o 25 de Abril de 1974 e o processo de descolonização que irá levar progressivamente à independência das antigas possessões ultramarinas, as missões de Angola serão afectadas na transição daquela mudança política. Por acto administrativo, entendeu a Cúria Geral fazer depender aquelas duas missões (Luanda e Caungula) directamente do Generalato. A nova situação jurídica não abalou a ligação natural que de Portugal se continuava a manter com aquelas missões e confrades; decorrente disso, e também por vontade expressa do Generalato, o financiamento das despesas correntes daquelas zona missionária continuou a ser suportado pela Província portuguesa. Essa situação manter-se-á até à constituição da Província angolana no Ano de 1993.
O Pe. José Eguizábal Garcia foi nomeado o primeiro Superior Provincial. Desde então passaram muitos missionários da Terra de Angola e também foram abertas muitas paróquias/missões tais como; Paróquias de Cristo Rei, Santa Madalena, São João Baptista, Quase Paroquia S. José Freinademetz, Quase Paróquia do Verbo Divino, Santuário de Kifangondo, N´zeto, Tomboco, Kakolo, Kakulama, Kaungula e a Missão de Sendi.
Neste momento, os Missionários do Verbo Divino trabalham nas paróquias, nas missões, na formação, na educação, na animação missionária, na promoção vocacional, na saúde, crianças desfavorecidas etc.

Arnaldo Janssen e José Freinademetz - Santos SVD

Santo José Freinademetz - Missionário SVDSANTO ARNALDO JANSSEN: Um apóstolo para os nossos tempos

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Por Padre Ladeira
Provincial SVD Angola

Um coração, muitos rostos! De todas as nações, povos e língua, partilhamos vida e missão intercultural.
5/10/2003 - 10 anos desde a canonização dos Santos Arnaldo Janssen e José Freinademetz.
Aos da SVD, SSpS e SSpSAP e seus parceiros de missão, que este dia seja de uma profunda renovação do compromisso missionário.
Nos inspiremos pelo exemplo destes grandes Santos. Parabéns!

SANTO ARNALDO JANSSEN: Um apóstolo para os nossos tempos

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Por Padre João Ladeira
SVD Angola

SANTO ARNALDO JANSSEN:
Um apóstolo para os nossos tempos

#### Esboço de sua Vida e Obras

1837. 5.11Nascimento em Goch
1849/1861Estudo no Liceu de Goesdonck: Matemática, Ciências da Natureza (Bona, Münster). Teologia
1861. 15.08Ordenação Sacerdotal (Münster)
1861- 1873Professor na faculdade
1869Director Diocesano do Apostolado da Oração
1874 Jan.Início da revista: «Pequeno Mensageiro do Sgdo. Coração de Jesus»
1875. 08.09Início da Casa Missionária em Steyl (Holanda)
1879 02.03Envio dos dois Primeiros Missionários a China: PP. von Anzer e José Freinademetz.
1884-1886Iº Capítulo Geral: Fundação da Sociedade do Verbo Divino (SVD).
1888-1904Fundação de mais 5 casas em Europa: S. Rafael (1888) Roma;
S. Gabriel (1889) Áustria; Sta. Cruz (1892) Neisse/Alem.; S. Vendelino
(1898) Alemanha; S. Ruperto (1904) Áustria
1889 08.12Fundação das «Missionárias Servas do Espírito Santo»
1882- 1908Aceitação de novos campos de trabalho missionário:
*China, 1882* Argentina, 1889
* Togo, 1892* Brasil, 1895
* Nova Guine, 1896* Chile, 1900
* USA, 1905* Japão, 1906
* Paraguai, 1908* Filipinas, 1908
1896 08.12Fundação das «Missionárias Servas do Espírito Santo de Adoração Perpetua»
1900 25.01Aprovação Pontifícia da SVD
1909 15.01Falecimento em Steyl
1975 19.10Beatificação, pelo Papa Paulo VI
2003 05.10 Canonização, pelo Papa João Paulo II


#### QUEM É ARNALDO JANSSEN?

### Infância e Juventude
Na «Frauemstrasse» de Goch, pequena aldeia junto do Reno, na Alemanha, fica a casa onde Arnaldo Janssen nasceu ao 05 de Novembro de 1837.
Seu pai, Geraldo Janssen, tinha um pequeno negócio de transportes além de uma pequena fazenda agrícola; ainda não tínhamos os carros nem o caminho-de-ferro, de modo que o transporte de mercadorias entre a Alemanha e a Holanda realizava-se na altura por tracção animal: uma carroça e um cavalo faziam a passagem entre a zona de Goch e a cidade holandesa de Nimega.
O pai Geraldo era um homem de corpo inteiro, sumamente honesto e com uma forte personalidade cristã: durante as longas viagens, ele sempre rezava o Terço, além de outras práticas religiosas que soube inculcar na sua família, naturalmente.
Aos domingos costumava assistir a uma Segunda Missa cantada em honra da Ssma. Trindade, e segundo o testemunho de um dos seus filhos, frade capuchinho depois, mesmo no leito de morte, fez jurar aos seus filhos que iriam continuar com esta prática também depois da sua morte. Frequentemente rezava com os seus filhos o Prólogo do Evangelho de João: «No princípio existia o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus...».
Também a sua mãe, Catarina Wellesen era uma mulher de profundos sentimentos religiosos e de oração firme: além de ter criado os seus oito filhos, soube levar à frente as suas obrigações como mulher da sua casa, sem deixar diariamente de assistir à Santa Missa bem cedo de manhã, rezando na parte da tarde a Via-sacra.
Nesta família nasceu Arnaldo. O pai tinha sempre recomendado, além da Segunda Missa aos domingos em honra da Ssma. Trindade, oferecer a Missa cada Segunda em honra do Espírito Santo, pedindo a sua graça para a semana.
Arnaldo herdou o espírito de oração de seu pai e de sua mãe, e soube também deixa-lo como herança nas suas Congregações.

### Anos de Estudo
A família de Arnaldo pertencia à classe media, e chegou a estudar porque o Padre da sua Paroquia se interessou por ele. Teve bastantes dificuldades com as línguas, porem, com aplicação chegou a falar bem o latim e o francês, com algum conhecimento também do italiano e do espanhol, já como sacerdote; gostava muito da Matemática e das Ciências de Natureza, disciplinas nas que realmente chegou a ter bastante domínio.
Inicia os estudos na escola paroquial da aldeia de Goch, dirigida pelo Padre da Paroquia. Desde Outubro de 1849, passa a estudar o liceu na escola diocesana de Goesdonck. Realmente foi um bom estudante: em 11 de Julho de 1855 faz em Münster as provas correspondentes ao bacharelado, tinha apenas 18 anos de idade.
Desejando seguir a formação para sacerdote, inicia os estudos superiores na Real Academia de Münster, que será depois Universidade a partir de 1902. Durante três semestres, de 1855 até 1857 segue lições de Lógica, Psicologia e Pedagogia aplicando-se de modo especial na Matemática, pois pretendia ser professor dessa disciplina.
Nesse tempo Arnaldo mora no «Collegium Borromeum» fundado em 1854 pelo Bispo Jorge Müller. Ele era jovem demais para iniciar a Teologia, pelo que aproveita o tempo para fazer um curso de Ciências e Matemática na Universidade de Bona, com o consentimento de seu Bispo, pois era uma prioridade da Igreja local na altura preparar bons professores para entrar dentro do esquema de ensino.
Em Julho de 1857 faz as provas finais para Professor. No seu tempo em Bona ganhou um prémio por ter resolvido um problema de alta matemática que todos os anos organizava a Universidade de Bona, o prémio consistia numa quantia de 50 táleros, com que quis honrar seu pai, convidando-o a passar uns dias de férias em Bona. Para o pai foi a primeira vez que teve possibilidade duma coisa do género. Em Junho de 1957 fez o exame da Universidade. Tinha na altura 22 anos, obtendo o título de Professor de Liceu para Matemática e Ciências.
Volta assim a Münster para continuar a sua formação sacerdotal. Estuda Dogmática, Moral, Direito Canónico e Ciências Bíblicas.
Na Sé de Münster, na festa da Assunção de Nossa Senhora de 1861 foi ordenado sacerdote pelo Bispo João Jorge Müller. Ao 17 de Agosto, celebra a sua Primeira Missa, sendo nesta data acompanhado pelo pai.

### Primeiros anos de sacerdócio
O jovem sacerdote Arnaldo foi encarregado de realizar o seu serviço sacerdotal como Professor na escola municipal de Bocholt, onde dedicou-se ao ensino e exerceu o cargo de Prefeito.
Ao mesmo tempo ajudava como capelão na Paroquia de S. Jorge, onde celebrava a Sta. Mesa e administrava o sacramento do Perdão. Doze anos passou Arnaldo nestes serviços: exercendo-os de modo muito responsável; este traço caracterizou sempre os seus trabalhos. Estava sempre disponível para realizar conferencias, escrevia artigos para promover a escola em que trabalhava.
Já Director diocesano do Apostolado da Oração visita em 1869 mais de 300 das 350 paroquias com que contava a Diocese de Münster. Aproveita a revista «Mensageiro» para apresentar as intenções mensais do Apostolado; sem dúvida esse foi um dos grandes instrumentos para difundir a espiritualidade do Pe. Arnaldo, porquanto chegou a ter uma tiragem de perto de 400.000 exemplares. Neste tempo viaja por toda Alemanha, Áustria, Suíça, para tornar a revista conhecida no contexto alemão conhecida.
Em 1867 realiza a sua primeira grande viagem ao exterior, à Exposição Mundial de Paris, e desde lá aproxima-se até Ars, onde tinha morrido o Santo Pároco João Baptista Vianney. Em Setembro desse mesmo ano está presente na magna assembleia dos católicos da Alemanha e da Áustria, o «Katholikentag».
Nessa ocasião fala com o Pe. Malfatti S.J., director nacional do Apostolado da Oração, e por insinuação do mesmo é nomeado Director Diocesano, como já vimos.
Entretanto começa a sentir-se menos à vontade na sua tarefa de Professor, sobre tudo porque desde 1871 estão em vigor as leis do Kulturkampf, contrarias a todo o que seja católico. Assim deixa a tarefa de Professor em Bocholt ao 19 de Março de 1873.

### Editor de uma revista missionária
As Irmãs Ursulinas do Calvário tinham uma escola superior para meninas em Kempem. Aqui ficou Arnaldo dois anos como capelão. Também ministrava aulas de religião para as meninas, porem sempre tinha tempo de sobra.
Assim planejou organizar uma revista Missionária, que seria publicada em Paderborn, pela editora de S. Bonifácio. A respeito do conteúdo trazia notícias das missões exteriores e algumas orações; apresentava também a geografia, fauna e botânica dos países de missão. O Pe. Arnaldo chamou-a «Pequeno Mensageiro do Sagrado Coração» no fim de Setembro de 1873 tinha preparado o primeiro manuscrito para a imprensa; fizera-se uma tiragem de 10.000 exemplares.
Já na edição do segundo número, Arnaldo confessa o objectivo da revista: «O “Pequeno Mensageiro” deverá promover o interesse pelas Missões Exteriores da Igreja Católica dentro da pátria. Confiamos que esta magnífica obra seja acompanhada pela oração e pelas ofertas. Confiamos também promover aqui e acolá algum interesse pela missão, e se Deus assim o dispor, algum dia poderemos iniciar um Seminário de Missões».

### Fundação da Casa de Missões
Ao 23 de Maio de 1874 teve notícia da visita do Vigário Apostólico de Hong-Kong, Mons. Raimondi, ao Pároco von Essen, em Neuwerk. Ali apresentou-se Arnaldo, com a ideia de recolher alguma informação acerca das missões na China, para posterior publicação.
O Pe. Arnaldo aproveitou para apresentar um seu sonho: a fundação de um Seminário de Missões para a Igreja de língua alemã. O Bispo animou-o a unir-se na tarefa com o Pároco von Essen, cheio de atenção também pela obra missionária em Luxemburgo. O Pe. Arnaldo, não se sentia animado: para a fundação de um Seminário do género era preciso um grande homem, pensava. O bispo, como inspirado pelo Espírito Santo, simplesmente diz: «Funde-o você mesmo!. E junto com o Seminário levante também uma escola missionária, onde bons rapazes possam dar os primeiros passos no caminho da sua formação para o Sacerdócio». Arnaldo rezou para ter Luz e Força.
Como fruto destas orações, ele compreendeu claramente a Vontade de Deus: ele mesmo deveria tomar em suas mãos a fundação duma casa missionária. Era a vontade de Deus!.
O Pároco von Essen não podia deixar a sua Paroquia, devido às leis do Kulturkampf: o seu Bispo não deu autorização. Arnaldo ficou assim só com tão grande tarefa na mão.
Arnaldo viajou até Venlo. Nesta cidade fronteiriça, em Tegelem exactamente, havia uma casa com grande quintal, que se prestava muito bem para o que ele desejava. Porem o preço era mesmo alto: 45.000 marcos. Não ficou desmoralizado. Visitou os Bispos da Holanda pedindo-lhes a sua Bênção para a obra; visitou alguns Seminários Maiores, falou com os seminaristas aprestando-lhes a ideia.
O ancião Bispo de Roermond, Mons. Paredis falou depois da visita do Pe. Arnaldo para um sacerdote diocesano: «Esteve aqui o Sr. Janssen, o capelão das Ursulinas de Kempem. Imagine-se, pretende fundar uma casa missionária, e não tem nada. Realmente o é um maluco, ou então é um santo».
O arcebispo Paulo Melchers, de Colónia, ouvindo falar dos planos do Pe. Arnaldo, diz: «Vivemos tempos em que nada se mantém de pé, e você pretende levantar algo novo?». Naturalmente, ninguém podia-lhe ajudar. O seu Bispo, Bernardo Brinkmann, de Münster, também não tinha possibilidades para o apoiar.
Entre tanto tinha aparecido uma nova oportunidade para responder ao sonho de Arnaldo, que já estava plenamente convencido de que a Obra era vontade de Deus, e já nada nem ninguém o poderia impedir de a realizar. Na aldeia de Steyl, junto ao rio Mosela, que pertencia ao municio de Tegelem, encontrava-se uma antiga pousada, em venta, e com um preço muito mais acessível, embora ainda alto para Arnaldo. Porem comprometeu-se a comprar por um preço de 17.000 marcos.
E pus as coisas nas mãos dos leitores do Pequeno Mensageiro. A quantia poderia sair das doações dos pobres. Uma jovem, que entrou no convento das Clarissas de Düseldorf, trouxe a sua dote com ela, que chegava a 9.000 marcos. A Abadessa enviou este dinheiro à nova fundação de Steyl. Um segundo presente de 6.000 marcos veio da jovem empregada Catarina Schell. Com este dinheiro comprou Arnaldo a velha pousada junto do rio Mosela para fundar nela a primeira Casa de Missões alemã. As oferendas dos pobres, mais uma vez, estão nos alicerces das Congregações de Steyl.
Também foram chegando os primeiros colaboradores: o estudante de Teologia João Baptista von Anzer, do Seminário Maior de Regensburg; Francisco Reichart, de Vorarlberg, e o Pe. Bill da Diocese de Luxemburgo.
Ao 16 de Junho de 1875 assinou-se o contrato de compra. Era o 200 aniversário das visões de Sta. Margarida Maria de Alacoque; esse dia era celebrado com festa em muitos conventos e paróquias por desejo do Papa Pio IX. Também Arnaldo e os seus colaboradores consagraram-se ao Coração de Jesus, deixando tudo nas suas mãos!. Arnaldo resumiu o texto da oração do Santo Padre numa oração que passou a ser o leit motiv dos Missionários de Steyl: «Viva o Coração de Jesus nos corações de todos».
Em 08 de Setembro de 1875 teve lugar a Bênção da Casa Missionária, junto ao rio Mosela. Esse dia celebra-se a festa do Nascimento de Nossa Senhora. É também a data do nascimento da Congregação dos Missionários do Verbo Divino - Societas Verbi Divini, SVD -. Foi uma grande festa para toda a aldeia de Steyl. O Santo Padre enviou a sua Bênção.
Ainda chegaram novos reforços. O jovem Henrique Erlemann, de Wadersloh na Westfalia, que foi um autêntico presente do céu naqueles momentos: tomou a direcção das construções e fabricou as mobílias precisas.
Chegou também um irmão do Pe. Arnaldo, que era religioso Capuchinho, Ir. Junipero, homem de um humor invejável. Foi o cozinheiro da pequena comunidade, e uma espécie de mãe para os habitantes daquela comunidade Missionária.

### Dificuldades e primeiros problemas
Uma coisa tinham clara os primeiros habitantes de Steyl: queriam levar a graça de Cristo aos povos que não o conhecem, instaurando o Reino de Deus. O problema se apresentava à hora de decidir que organização interna seria a melhor para realizar este projecto.
O Pe. Arnaldo sonhava numa Congregação Missionária, com forte incidência da obediência a um Superior; assim ofereceu à pequena comunidade uma Regra e um Horário pelos que deveria reger-se a vida diária. Para programar isso, ele olhava às grandes Ordens com trabalho missionário. Por seu lado o Pe. Bill e os dois jovens seminaristas pensavam mais bem numa Associação de Padres diocesanos que se comprometiam com a Obra missionária, sem votos nem nada que lembrasse à vida religiosa.
Assim já entre os primeiros colaboradores criou-se um descontentamento cada vez mais forte, na medida em que o Pe. Arnaldo insistia na sua visão da vida na Casa de Missões. Chegaram a procurar apoios, com o argumento: «Arnaldo Janssen não é a pessoa adequada para um empreendimento como a fundação da primeira Sociedade de Missões alemã, ele é pouco prático». Arnaldo sofreu muito, e os seus colaboradores também. E sobre tudo por não ter ainda bem claro o caminho a seguir; procurou na oração claridade de ideias. Arnaldo decidiu-se por um estilo de sociedade religiosa. O Pe. Bill achou que não podia aceitar e retirou-se, e com ele o estudante Reichart; o jovem von Anzer continuou. A verdade que estas dificuldades ajudaram não pouco à centrar-se na oração e no trabalho.
E chegaram outros Sacerdotes. Aos 02 de Junho de 1876 Deus enviou ao Pe. Arnaldo a bênção do seu irmão Pe. João Janssen, e um amigo deste, Hermann Wegener; posteriormente, da Diocese de Bresannone, no Alto Adige italiano, o jovem sacerdote José Freinademetz, não podiam ser melhores os primeiros confrades.
O Senhor realmente abençoou o trabalho. Vieram jovens a Steyl para estudarem e se prepararem para a vida Missionária, e os sacerdotes trabalhavam como educadores. Em 15 de Agosto de 1876 foi Ordenado Sacerdote o jovem João Baptista von Anzer em Utrech; dois dias mais tarde tinham na casa de Missões a Primeira Missa do novo sacerdote, e aproveitou-se o ensejo para lançar a primeira pedra do novo edifício, porquanto a velha pousada tinha ficado muito pequena. No segundo aniversário da fundação teve lugar a Bênção do novo edifício. Os profetas de turno, que tinham previsto o fracasso total, tiveram que iniciar a olhar com visão distinta.

### A obra dos Exercícios Espirituais
O novo edifício foi usado sobre tudo para os sacerdotes que iniciaram a fazer aqui os seus Exercícios Espirituais. O Arcebispo Paulo Melchers de Colónia, que morava em Maastricht por causa das leis do Kulturkampf escreveu ao Pe. Arnaldo apresentando a possibilidade de os sacerdotes da sua Diocese puderem fazer o retiro em Steyl, visto que em Alemanha era mesmo difícil. Arnaldo aceitou, e assim, junto com a ideia missionária, foi crescendo em Steyl o apostolado dos Exercícios Espirituais. Em 1877 houve em Steyl três cursos de Exercícios para Sacerdotes, um curso para Homens e outro para jovens.
Esse foi o início da Obra dos Exercícios em Steyl. Milhares de Sacerdotes e de Professores, Homens e Jovens, Mulheres e Moças passaram por Steyl e lá ficaram uns dias de reflexão e oração. Esta grande «paróquia» de gente que fez os Exercícios Espirituais, que por Steyl passava, ficava impressionada pela atitude do pessoal da casa, o seu sentido da responsabilidade e do trabalho, terminando por ser os melhores propagadores da Obra de Steyl.
«Em nossos dias a Prensa é fundamental...»
Tanto como os Exercícios, foi a Apostolado da Prensa que marcou o início da Obra Missionaria de Steyl. Sabemos que Arnaldo esteve sempre metido dentro do mundo das publicações; não surpreende que bem cedo pensasse na possibilidade de iniciar com a publicação em casa do «Pequeno Mensageiro»de modo que já em Dezembro de 1875 trata com o impressor Henrique Stute da compra da sua gráfica; e ao 27 de Janeiro de 1876 já está em casa.
A Gráfica de Steyl teve início humilde, porem cresceu; foram aparecendo novas publicações: Stadt Gottes (1878), e sobre tudo Michaelskalender, desde 1880, que fizeram conhecida a Casa de Missões, e as obras da mesma na pátria e nos territórios de Missão.
A importância da Prensa não se pode deixar de lado. A intuição de Arnaldo foi realmente importante; até a Policia social do tempo de Hitler, depois da ocupação da Holanda, uma das primeiras coisas que fez foi encerrar a Gráfica de Steyl ao 12 de Fevereiro de 1941: « Agora, por fim, temos acabado com o centro da Acção dos Católicos».

### Irmãos missionários
Nunca poderemos valorar devidamente o peso dos Irmãos missionários na Obra de Steyl: foi a oração e o trabalho deles que fez crescer grande a Congregação do Verbo Divino. Deus enviou ao Fundador homens realmente impressionantes: assumiram o mantimento da Casa, a direcção da Gráfica, terminando por ser insubstituíveis no trabalho especifico da missão.
Seguiram aos seus irmãos sacerdotes a China, a Togo, a Sul-América. Nas missões construíram escolas, igrejas, hospitais; montaram fazendas e criações. Formaram um só coração com os sacerdotes: o coração da missão.

### Irmãs Missionárias
Sem o contributo da mulher, a obra da Pregação do Evangelho fica sem uma sua dimensão importantíssima: o acolhimento. As primeiras colaboradoras que Deus enviou ao Pe. Arnaldo foram Elena Stollenwerk, que tinha lido o apelo do Pe. Arnaldo no Pequeno Mensageiro chamando jovens cristãs que quisessem assumir os riscos da vida missionária como Irmãs.
Ao 29 de Dezembro de 1882, Elena chegou a Steyl; em 12 de Fevereiro de 1884 apresentou-se Hendrina Stenmanns. Junto com outras meninas foram ocupadas nos serviços de cozinha da Casa Missionária, e depois de longa preparação, Arnaldo Janssen deu inicio à Congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo aos 08 de Dezembro de 1889. Na vestição, a Irmã Elena passou a se chamar, Maria, que será depois Beatificada pelo Papa João Paulo II. Por seu lado, Hendrina passou a chamar-se Irmã Josefa. As duas são consideradas como Co-fundadoras das Congregações de Irmãs Missionárias.
Bem cedo, já ao 15 de Setembro de 1895 saíram também as primeiras Irmãs Missionárias rumo a Argentina. Até a morte do Fundador, foram destinadas por este às Missões mais de 301 Irmãs. Das duas primeiras Irmãs, nem a Irmã Maria, nem a Irmã Josefa saíram para as Missões, a sua tarefa fundamental foi apoiar ao Fundador e consolidar a jovem congregação das Servas do Espírito Santo.

### Irmãs Missionárias de clausura
Uma das mais fortes convicções de Arnaldo Janssen era a urgência da oração para realizar a obra missionária, porquanto de Deus Trindade Santa nasce e em Deus tem o seu objectivo e fim. Deus é o agente primeiro da Missão. Orar e Trabalhar seriam os dois eixos da acção missionária em todas as partes.
Para apoiar eficazmente na oração às duas Congregações de Steyl, o Pe. Arnaldo pensou na conveniência de unir à obra missionária um grupo de Irmãs contemplativas, cuja missão fosse precisamente segurar a acção dos seus irmãos e irmãs de vida activa. Assim, aos 08 de Dezembro de 1896 deu início ao grupo de Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo de Adoração Perpetua.
No serviço eclesial próprio da vida contemplativa, elas são propriamente missionárias participando dos trabalhos das duas congregações de vida activa. Na adoração contínua do Santíssimo Sacramento, elas pedem a graça do Espírito Santo para toda a Igreja, e de modo particular sobre a Missão da Igreja.

### Os Missionários do Verbo Divino no mundo
Ao 02 de Março de 1879 tinha lugar em Steyl o primeiro envio missionário. Os dois primeiros missionários foram João Baptista von Anzer, e José Freinademetz, enviados para a China, primeiro a Hong Kong, e depois ao território de Shantung, no Norte.
Desde aquela data, saíram de Steyl homens e mulheres, segundo o urgente convite do Senhor de fazer que a Boa Nova chegue até aos últimos cantinhos da terra. O mesmo Arnaldo tem celebrado a festa do Envio em 29 ocasiões; enviou pessoalmente 821 missionários: 333 sacerdotes, 187 Irmãos e 301 Irmãs.
Aos 05 de Novembro de 1907 celebraram os Missionários de Steyl o 70 aniversario do seu Fundador; estava presente o Bispo Henninghaus, sucessor de von Anzer no Shantung e no seu discurso diz: «Estou aqui em nome de 40.000 cristãos chineses, que devem a V.R. Padre, a graça de poderem escutar a Palavra de Deus, e que rezam por V.R. Estou aqui em nome de 43.000 catecúmenos; também rezam por V.R. mais de 150.000 almas de crianças que foram Baptizadas de urgência».
Aos 72 anos, o dia 15 de Janeiro de 1909, Arnaldo Janssen voltou ao Pai; os seus restos foram depositados na capela do cemitério de Steyl, mas o seu carisma contínua vivo: a sua obra continua viva e seguindo os seus passos no anuncio da Boa Nova da Salvação, Cristo Jesus na força do Espírito Santo.
Á morte do Fundador, a Congregação do Verbo Divino (SVD) contava com seis casas de formação, 430 Sacerdotes, 600 Irmãos, 450 Irmãs Missionárias e de clausura, mais de 1000 seminaristas.
Em 1975, cem anos depois da fundação da SVD, o Papa Paulo VI, no Domingo das Missões apresentou como modelo de vida cristã o Pe. Arnaldo ju.0nto com o Primeiro missionário SVD o Pe. José Freinademetz. E juntos foram Canonizados pelo Papa João Paulo II, também no Domingo das Missões, 04 de Outubro de 2003.
Também 100 anos depois da fundação das Irmãs Missionárias, foi elevada à glória dos altares a primeira mulher que entrou dentro do projecto missionário do Pe. Arnaldo, a Bem-aventurada Maria Helena.
Hoje (2012), a família de Arnaldo Janssen, está formada por 6015 Missionários do Verbo Divino, dos que 46 são Bispos. Por 3161 Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo, e ainda por 335 Missionárias Servas do Espírito Santo de Adoração Perpetua.

Ut Verbum Dei currat!

Santo José Freinademetz - Missionário SVD

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Por Padre João Ladeira
Provincial SVD Angola

#### INTRODUÇÃO
Um missionário é um mistério. E é isso mesmo que ele deve ser, já que o Mistério de Cristo é anunciado por ele, e nele é revelado. Todos os missionários do Verbo Divino partilham a Missão do Verbo, enquanto aportam caminho e luz aos homens de hoje.
O Padre José Freinademetz, um dos dois primeiros missionários do Verbo Divino, imaginava a missão como pão dado aos famintos. Através do anúncio da Palavra, ele levaria aos outros o Pão de vida e de luz. Toda a sua vida missionária passou entre os chineses: os amou e foi amado por eles. As suas obras foram expressão do seu profundo amor por eles. No Domingo das Missões do ano 1975, o Papa Paulo VI, salientou este amor declarando: «Ele foi chinês com os chineses, como S. Paulo foi todo para todos, a fim de ganhar todos para Cristo. Assemelhou-se aos chineses não só através do seu modo de vestir, suas maneiras exteriores e sua língua, mas também pelo seu estilo de vida, os seus pequenos hábitos quotidianos, a até o seu modo de pensar».
Porem, a adaptação não foi assim tão fácil. Ele era homem do seu tempo, última metade de século XIX, época em que os europeus impuseram a sua presença colonial ao velho império chinês. Também no modo de fazer missão na altura – bem longe ainda da tolerância religiosa avançada pelo Vaticano II – onde os não-cristãos eram considerados como inimigos pessoais de Cristo. Tendo em conta tudo isso, podemos admirar até que grado o Pe. Freinademetz foi chinês com os chineses.

#### HISTÓRIA DE UMA VOCAÇÃO
Nasceu em 1852, no município de Abtei-Badia, pequena aldeia do Sul do Tirol, na altura território do Império Austríaco, e actualmente pertencente a Itália.
Como membro duma pequena etnia, os ladinos, o jovem Freinademetz habituou-se a interessar-se por outros povos, por compreende-los e ama-los. A sua língua materna era semelhante à dos italianos do alto Trentino, e era o italiano a língua eclesiástica dos ladinos. Já na escola primária inicia com a aprendizagem do alemão, e foi nesta língua que realizou os estudos teológicos. O facto de o seu país natalício compreender diversas nacionalidades alargou sem dúvida a sua visão.
O interesse do jovem Freinademetz pelo trabalho missionário nasce nos anos da escola secundaria em Brixen, sede episcopal da sua diocese. Um dos seus professores foi grande amigo das missões, e lia nas aulas extractos de sua correspondência com missionários de África. Costumava convidar os missionários a Brixen, e até numa ocasião fez vir um jovem africano. A ideia missionária foi tomando posse do jovem José. Queria, ele mesmo, levar a Palavra divina aos seus irmãos para tirar-lhes a sua fome espiritual e material.
Uma homilia sobre a lamentação do profeta Jeremias: «As crianças pediam pão e não houve quem lho desse», ainda aprofundou mais este desejo. A ideia de José Freinademetz sobre os povos não-cristãos caracteriza-se, como não podia ser menos, por uma interpretação largamente superada hoje, restritiva do princípio Extra Ecclesia nulla salus. Se supõe que a salvação apenas é possível dentro da Igreja Católica, e as religiões não-cristãos outra coisa não são do que pura idolatria.
O jovem Padre Freinademetz fala claramente ao respeito nas suas homilias. Em 1874, faz menção da China pela primeira vez: «Vou falar hoje dos nossos coitados irmãos, que mais do que outros experimentam a miséria do mundo... Os chineses, por exemplo. Ali, uma mãe pode perder o seu filho por ser oferecido aos ídolos; um pai não hesita em arrojar o seu filho nas chamas perante um boneco; um esposo pode enxotar de casa a sua mulher para agradar aos deuses. E não penseis que isso acontecia antes de Cristo. Ainda hoje, há povos infortunados que gemem nas trevas do paganismo».
A meados de Julho de 1878, José Freinademetz, Padre diocesano de Brixen, encontra-se pela primeira vez com Arnaldo Janssen, fundador dos Missionários do Verbo Divino. Voltando de Roma, tem-se aproximado de Brixen para ver o Pe. Freinademetz, quem tinha escrito repetidas vezes a Steyl. Juntos aproximam-se do Bispo de Brixen, apresentando-lhe o desejo do Pe. Freinademetz de se consagrar às missões: «O bispo de Brixen diz não, mas o bispo católico diz sim. Tomai o meu filho José, e fazei dele um bom missionário!».
Assim, com a bênção do seu bispo, sete semanas mais tarde, José Freinademetz chega a Steyl. Depois de dois dias, escreve as suas primeiras impressões numa carta à família: «Esta casa é verdadeiramente uma casa de Deus. Sinceramente, do pouco que já vi nestes dois dias, posso dizer sem exagero: jamais tinha visto alguma coisa de semelhante, nem no Seminário Menor nem no Maior lá em Brixen. O zelo e a simplicidade dos estudantes, os esforços que eles fazem, são algo novo para mim. Apesar de da sua juventude, eles sabem que deve-se tomar a vida a sério. Este espírito não pode vir senão do ardente desejo de ser missionários. Por isso estou contente aqui, e dou graças ao Senhor por poder cá estar... Já iniciei o aprendizado da língua chinesa!».
José Freinademetz ficou apenas seis meses em Steyl. Em Março partiu para a China – junto com o seu confrade João Baptista von Anzer -. O dia anterior à partida, Arnaldo Janssen lhes tinha dito: «Felicito-vos, porque o dia que tanto tendes desejado, já chegou. Sem dúvida, no caminho até ao embarque ireis encontrar-vos com pessoas a quem amais, chorando, e o vosso coração ficara tocado... Quem ama o seu pai e sua mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim...Partis para a China. Não sabeis o que Deus vos ira a pedir ainda, nem se Ele ira a fazer frutificar o vosso trabalho. Não sabeis nem se lá chegareis. Mas uma coisa é segura: Deus não deixará sem recompensa vossa boa vontade. Ide então sossegadamente a esse futuro incerto. Vão levados na palma da mão do bom Deus, e as nossas orações vos acompanharão».
A 15 de Março, depois de uma última visita à família – que jamais voltará a ver -- o Pe. Freinademetz embarca para a China cheio de zelo pelos chineses que ama como irmãos em Cristo. Tinha grandes expectativas. Pergunta-se como serão as gentes com as que vai trabalhar, que ele confia converter para o seu Senhor. No mais fundo do seu ser acredita que os chineses suspiram por compreender a Boa Nova. A sua decepção será grande. Na viagem, fica admirado dos muçulmanos que cumprem os seus deveres religiosos em público sem reparo nenhum. O Pe. José que nunca tinha tido contacto com não-cristãos, escreve numa carta: «Por seu comportamento digno, manifestam que não rezam por dever, nem por farisaísmo» Fica assim mesmo impressionado pela tolerância dos passageiros que assistem às práticas dos muçulmanos. Tem alguns chineses a bordo, mas ele não entra em contacto com eles. Em Ceilão, conversa longamente – em latim – com um diácono chinês acerca da situação do país.
Chega a Hong Kong a 20 de Abril de 1879, com o Pe. Anzer. As suas primeiras impressões são enviadas por correio a Steyl, aos familiares e amigos. Podemos constatar que perduram ainda os ideais da sua juventude. Condena os costumes religiosos dos chineses sem tentar compreende-los. A 28 de Abril de 1879, em sua primeira carta declara: «Nesta cidade vivem cem mil pessoas, e apenas mil são católicas. Quase todos são pagãos. Praticam uma espécie de religião em que fazem oferendas aos ídolos: porcos por exemplo. Mais olhai, apenas oferecem o fumo, porque a carne são eles mesmos que comem. Sobra dizer que este fumo deixa os ídolos bem contentes!».
Neste momento de sua vida, o Pe. Freinademetz não pode imaginar que um povo não-cristão seja bom. Assim, no início, ele falará sempre da "desgraçada China", e dos "coitados chineses". O seu caso é como o de aqueles que chegam a um país estrangeiro pela primeira vez: só vem o que é diverso, o que vai mal. Só aos bocados é que vão percebendo o que tem de bom e de belo. Também em José Freinademetz dá-se uma mudança de pensamento, que vai de passo com a sua verdadeira devoção missionária. Numa carta aos seus pais escreve: «Quando vejo estes coitados chineses aprofundados nesta miséria, e que eu sou seu missionário e poderia ter sido um deles, os olhos enchem-se de lágrimas».

#### CHEGAR A SER CHINÊS COM OS CHINESES

O comportamento do Pe. José ao respeito dos chineses muda tão radicalmente que isso exige alguma explicação.
Após ter reparado apenas nos aspectos negativos, vai aos bocados descobrindo outros aspectos positivos. Inicia por admirar os monumentos e obras de arte – fruto de milhares de anos de história. Experimenta a gentileza dos chineses. O descobrimento dos costumes manifesta uma vida de família muito profunda, e também uma moralidade pública exemplar. Repara também que as ideias que ele tinha tido muito tempo na sua cabeça, não era conformes à verdade nem à caridade. Alem disso medita muito na razão da sua presença na China: o seu projecto missionário.
As condições fundamentais para todo êxito missionário são a estima, a simpatia, o amor para com as gentes a quem deve anunciar a Boa Nova de Cristo Jesus. Inconscientemente, José Freinademetz ira-se adaptando ao seu novo ambiente. Assim o põe de manifesto as cartas que vai escrevendo.

### Adaptação
Desde sua chegada a Hong Kong, recebe um nome chinês. Todos os missionários ocidentais recebiam um, porque para os chineses, os nomes ocidentais são pouco menos do que impronunciáveis. Como a primeira letra do seu nome é uma F, foi chamado FU, nome chinês de «fortuna, sorte». Acrescentou-se Shen-Fu, que significa "Pai espiritual", assim ficou o seu novo nome como FU SHEN-FU.
Em 02 de Junho de 1880, numa carta escrita a Steyl, descreve as suas vestes: «Visto-me como os chineses: uma camisa cumprida até aos pés, de cor clara, calções brancos, e uma espécie de camisola ampla, de cor azul; cabeça totalmente rapada, coberta com um solidéu».
A um amigo escreve: «O calor é bem suportável com as vestes chinesas. São muito ligeiras, dá a impressão que não se leva nada sobre a pele, e tão largas que parece têm espaço para várias pessoas. Alem disso é muito confortável. O que encontro esquisito é não levar nada na cabeça. Cada semana rapo a cabeça como tu limpas a barba. E ainda, devo fazer uma espécie de trança, é impensável um homem andar sem a trança dele. Se me visses deste jeito com certeza que romperias a rir. Mas é necessário fazer assim para salvar as almas».
O Pe. Freinademetz habituou-se facilmente à alimentação chinesa: «É totalmente diferente do que a nossa. Mas eu gosto, e fico tão contente com o meu peixe e o meu arroz sem mais aditamentos”.
O desejo de ser um bom missionário encorajou-o para aprender bem a língua do país e adaptar-se à sua cultura. Sem mentir, ele pôde escrever: «Vou ficando pouco a pouco chinês». Mas como a jovem Congregação do Verbo Divino ainda não tinha um território próprio de missão, os dois primeiros missionários do Verbo Divino, os Padres Anzer e Freinademetz trabalharam em Hong Kong, junto a Mons. Raimondi, amigo do Pe. Arnaldo, e bispo dessa diocese. Este destino era necessariamente temporário, porque o dialecto chinês lá falado era bastante distinto do falado no Norte. O Pe. Freinademetz inicia a sua actividade em Shan-tung em Março de 1892. Todo contente de começar a ser chinês com os seus fregueses, estuda de novo a língua local. Devem evangelizar um imenso território com 9 milhões de pessoas. As cartas e relatórios enviados a Steyl e à família manifestam como vai gostando dos costumes chineses.
Também estuda o carácter chinês: «Os chineses são muito inteligentes e talentosos. O último dos camponeses fala como um doutor, e sabem muitíssimas expressões literárias».
Um relatório ao Fundador demonstra a mesma compreensão e simpatia: «As fortificações datam dos anos 1850-60, quando bandos de revoltados invadiram o país. Então os camponeses desesperados refugiaram-se nas montanhas com tudo o que poderia servir-lhes. Fortificaram-se do melhor modo que puderam. Quando a gente nos conta os seus sofrimentos dificilmente podemos conter as lágrimas. A verdade, para estes camponeses, a pobreza é suportável porque, em primeiro lugar estão já habituados, e em segundo lugar, porque os chineses são sóbrios por natureza. Assim não se preocupam demais pelo amanhã. Estão sempre dispostos a grandes sacrifícios e a trabalhar duro para procurar-se o que precisam. No que refere-se à gentileza e a hospitalidade, ninguém pode-se comparar com eles. O simples camponês é tão gentil como o citadino cultivado. Desde que você entra numa casa, todos se levantam, e quando você sair, vão uma boa distância para acompanhar, mesmo se você é para eles um simples estrangeiro. Segundo a vossa idade, eles chamar-te-ão de irmão ou de primo. Se viajando perguntas pelo caminho, deves referir-te ao teu interlocutor de irmão, primo, ou mestre. Do contrário, mesmo se ele é um mendigo, não te responderá nada. Eu fico admirado frequentemente da instrução que têm estes humildes camponeses. Muitos provêm de famílias com três mil anos de história. O povo simples faz citações de Confúcio, o "homem santo", como eles lhe chamam. Aprendem de cor provérbios bem profundos».
Que contraste com as primeiras opiniões do Pe. José sobre os chineses. Esta mudança de atitude encontra a sua razão fundamental no facto de ter chegado a se assemelhar aos chineses não apenas no fato, mas no coração.

### Simpatia
Desde então, o grande afecto do Pe. José pelos chineses converte-se em algo tão forte, que apenas vê os aspectos positivos. Não tolera juízo algum e de ninguém desfavorável, sobre tudo da parte dos novos missionários.
Um dos seus confrades diz dele ao respeito: «Provavelmente chocado por algum dos meus juízos desfavoráveis, o Pe. José pôs-se a tecer elogios dos chineses. Exaltou o seu carácter, o seu sentido ético, a sua vida de família. Ele amava de tal modo os chineses que não suportava nenhum juízo negativo a seu respeito. Isso não significa que ele não tivesse consciência dos seus defeitos; ele actuava como uma mãe indulgente. Isso prova que foi um verdadeiro missionário. Um missionário na China deve amar os chineses, este princípio domina as suas palavras e os seus actos».
Como Superior, ele deu muitas palestras aos seus confrades. Expõe o tipo de relação a ter com os chineses: «Se vocês não amam, e não são amados, a vossa obra missionária é uma perda de tempo. Amai os chineses. Sedes amáveis e hospitaleiros, não sejais estritos e severos».

#### O DOM DE SI MESMO.

### Trabalho Missionário
Como trabalhou o Pe. Freinademetz em Shan-tung meridional, de 1882 até 1908? Apresentamos um resumo destes 26 anos. Os primeiros missionários da Congregação do Verbo Divino, os Padres Anzer e Freinademetz, iniciaram o seu apostolado a princípios do ano 1882. À sua chegada, o território de Shan-tung Sul tinha 158 baptizados. Esta região tem uma população de 9-10 milhões de habitantes. Pode-se considerar que é uma boa parte mérito do Pe. José o facto de que a sua morte, a região tivesse 40.000 católicos baptizados, e o mesmo número de catecúmenos.
O Pe. Anzer foi nomeado Vigário Apostólico, de Shan-tung, ficando o Pe. José como administrador, organizador e primeiro a fundar a maior parte dos postos missionários, nos primeiros anos. O método que seguiram foi fundamentalmente a fundação de muitas comunidades cristãs que se espalharam por todo o território. Os missionários não viviam concentrados em grandes "estações missionárias" – como era costume na altura – obrigando a grandes caminhadas aos fiéis. Pelo contrário, os missionários assumiram ocupar-se destas jovens comunidades, obrigando-se a grandes viagens por caminhos infernais a cavalo, ou em carretas pouco confortáveis. Este tipo de trabalho exigia um espírito de sacrifício bem real, e uma facilidade para adaptação à vida e pensamento chinês.
O Pe. José sempre aceitou as zonas onde ainda não havia cristãos. Mesmo se tinha desejos de baptizar o mais possível, não se apressa nunca a administrar o sacramento; já no seu tempo exigia um catecumenato de dois anos, interessando-se do aprofundamento da fé dos fiéis, pregando para eles retiros anuais nas aldeias, o que significa uma grande carga de trabalho: palestras, homilias e confissões.
Não devemos esquecer como o Pe. José reza pelo seu povo, e como ele sempre pedia aos outros de o fazerem também. Á tardinha, diante do Ssmo. Sacramento, ele apresenta ao Senhor as intenções dos chineses e da missão. E pede o mesmo aos benfeitores, aos familiares: «Não esqueçam de orar por nós, é o mais importante!».

### Amor profundo
A atitude do Pe. José é respeito dos chineses caracteriza-se pela estimação, a confiança, a prudência e um amor profundo. Escreve a um amigo, num período politicamente difícil: «Me perguntas se eu não deveria voltar a Europa. Bem gostaria encontrar os velhos amigos, se sou franco; mas posso- te dizer que voltar para Europa seria para mim a mais pesada das cruzes. Não quero deixar os meus chineses e considero um grande dom poder viver e morrer entre eles»
Noto que em Europa tem-se formado uma corrente negativa ao respeito da China nestes últimos tempos. Mas estou convencido que eles são o povo melhor do mundo, que constituem um povo magnífico que possui as melhores qualidades. Os missionários mais velhos com os que falei disto são da mesma opinião. Os juízos negativos provêm normalmente de prejuízos, da antipatia e de gentes que jamais trataram com chineses, mesmo depois de muitos anos de viver em Pequim. Não é surpreendente que eles tenham os seus defeitos. Mas acaso não os temos nós, povos cristãos?».
Assim podia dizer aos seus colegas: «A linguagem do amor é a única que é compreendida por todos!».
Quanto mais esteve entre os chineses mais gostava deles. Sentia-se orgulhoso dos seus irmãos cristãos, sobre tudo das crianças. Um dos seus confrades escreve ao respeito: «A sua infatigável bondade, a sua paciência, o seu amor desinteressado ganhavam os corações. Escutava atentamente os seus problemas e necessidades, e quando estava na sua mão sempre ajudava. Todos podiam aproximar-se dele, quer nos bons como nos maus tempos. Terminadas as suas orações era normal encontrar um monte de gente na sua porta».

### Reacção do povo chinês
As palavras dirigidas aos seus confrades, pouco antes da sua morte, por ocasião de um retiro, manifestam bem o que foi toda a sua vida: «O trabalho missionário é nulo sem amar e ser amado». A sua família escreveu: «No que me concerne, amo os meus queridos chineses e não tenho outro desejo do que viver e morrer entre eles. Sou mais chinês do que tirolês, e quisera ser chinês no céu. O meu único desejo é que os meus ossos repousem num cemitério chinês...»
Muitos testemunhos confirmam que estes sentimentos foram recíprocos, e que o ser amado foi para ele uma constante fonte de coragem. Naturalmente que isto provocou não poucos sentimentos de ciúme entre os seus. Os missionários e os cristãos chamaram-no "a mãe da missão". E quando a sua morte, um cristão declarou: «Sinto como se tivesse perdido o meu pai e a minha mãe».
O primeiro cardeal chinês, Tomas T'ien svd, que conheceu o Pe. José quando era jovem, disse dele, numa entrevista: «Era considerado um santo por todos os cristãos. É como Confúcio, diziam os cristãos, em quem tudo e bom e perfeito. Sempre humilde e amistoso. Todos os que o tratavam ficavam profundamente impressionados e consolados pela sua presença. Todos o respeitavam como algo de precioso... Um velho catequista, Yenyu-fung, de Yang-ku, tinha um forte espírito de contradição. Não encontrava nada de bom nos missionários estrangeiros. Mas havia uma coisa em que ele não podia menos do que estar de acordo: «Fu Shen-Fu é um santo. Ele não é como os outros. É um santo, um homem perfeito».
O Pe. José Freinademetz morreu o dia 28 de Janeiro de 1908.
Um dos seus confrades, o Pe. Stenz svd escreveu ao Pe. Arnaldo Janssen: «O cálice mais duro que podia tocar beber a nossa missão, tocou-nos. Perto das 18,00 horas, o nosso bom vigário morreu de febre tifóide... O que ele foi para nós, ninguém o pode imaginar».
Foi enterrado no cemitério de Taikia, perante a 12ª Estação da Via-sacra. Desgraçadamente, o seu túmulo não existe mais. Foi profanado durante a Revolução Cultural dos anos 60.
Junto com o Pe. Arnaldo Janssen foi Beatificado pelo Papa Paulo VI no domingo das Missões do ano 1979. E juntos também foram Canonizados pelo Papa João Paulo II no Domingo das Missões, 04 de Outubro de 2003, para Gloria da Santíssima Trindade e edificação do Povo Santo de Deus.