sábado, 5 de outubro de 2013

ESTANISLAU KUBISTA - (1898-1940) - Missionário e Mártire SVD

Via Flickr:
Por Padre João Ladeira
Provincial SVD Angola

ESTANISLAU KUBISTA - (1898-1940) - Missionário e Mártire SVD
Animador Missional e Comunicador

Estava mesmo muito frio no amanhecer do dia 26 de Abril do ano 1940, quando o “capo” entrou na barraca onde se encontravam detidos o Pe. Estanislau e outros sacerdotes. Desde a sua chegada ao campo de concentração de Sachsenhausen, o Pe. Estanislau tinha estado doente com pneumonia e diarreia forte. Cada dia estava mais fraco. A pesar disso foi obrigado a realizar o trabalho assinado, que incluía retirar a neve com uma pá durante longos períodos de tempo, exposto ao frio e ao vento.
Numa das últimas noites de sua vida, um outro sacerdote, o Pe. Domingos Józef cobriu-o com um cobertor. O Pe. Estanislau lhe disse: “Não vou durar muito tempo. Meu Deus, sinto-me tão fraco. Faça-se no entanto a Tua vontade!”. Mesmo estando severamente proibido, o Pe. Domingos atendeu-o em confissão. Quando o “capo” entro na barraca e viu o enfermo totalmente exausto, lhe disse: “Não tens razão alguma para continuar com vida”. A seguir começou a aplastar-lhe o pescoço e o peito com as botas. Um outro prisioneiro disse mais tarde: “Ouvíamos o barulho dos ossos a estalar, e o ultimo suspiro sufocado”. Sabíamos que o Pe. Kubista estaba a morrer”. Tinha 42 anos. Entregou a sua vida sem saber por que o seu algoze era tão cruel. Mas, morrendo, conservou a sua dignidade. Podia faze-lo pois toda a sua vida foi de sossegada dignidade.
Estanislau nasceu numa família humilde de Kostuchna, na Silésia. Era o quinto de nove irmãos e cresceu numa atmosfera muito religiosa. A família Kubista era visitada com frequência por um Irmão SVD que vendia as revistas publicadas na Casa de Missões. Estanislau estava familiarizado, portanto, com os missionários desde sua meninice. Aos 14 anos, fascinado já pelo ideal missionário, entrou em nosso seminário menor de Nysa, para dar seguimento a sua formação. A Primeira Guerra Mundial interrompeu seus estudos por ter sido enrolado no exército. No entanto não abandonou o seu ideal missionário. Imediatamente depois da guerra voltou a Nysa para continuar sua formação. Em 1920 entrou no Noviciado SVD em S. Gabriel, Áustria, onde completou os seus estudos Teológicos e sua formação religioso-missionaria. Emitiu os Votos Perpétuos no dia 29 de Setembro de 1926 e recebeu a Ordenação Sacerdotal em Maio de 1927. Seus formadores e colegas consideravam-no gentil, modesto, fiel e sereno, sempre disposto a qualquer sacrifício.
O Pe. Estanislau surpreendeu-se muito quando foi destinado a trabalhar na Polónia, em lugar de ser enviado a China ou a Papua Nova-Guiné – destinos que ele tinha solicitado --. Seus Superiores desejavam que trabalhasse na recentemente instituída Região da Polónia, onde havia grande necessidade de pessoal. Viu nesta decisão dos superiores um sinal da vontade de Deus. Desde o início deu sinais de grande dedicação e espírito de iniciativa. Dado que era notavelmente criativo, pôde combinar seus deveres de Administrador Regional com suas responsabilidades de editor e publicador. Compreendia que o futuro da Congregação – e até a Evangelização na Polónia – dependia dos mass-media modernos.
Seguindo portanto os mesmos passos do que o Fundador Arnaldo Janssen, o Pe. Kubista insistiu que a nova Região SVD tivesse a sua própria gráfica. Em 1931 recebeu a autorização para instalar uma. Graças aos seus esforços, a Congregação na Polónia viu-se cada vez mais implicada no apostolado da prensa escrita. Isso permitiu rapidamente à Congregação ser conhecida como congregação religioso-missionária.
O Pe. Kubista foi editor da Revista “Skarb Rodzinny” – Tesouro Familiar --; “Postłaniec sw. Józefa” – Mensageiro de S. José – e “ Mały Misjorarz” – O pequeno Missionário --. Quando foi nomeado redactor de “Tesouro Familiar” em 1934, a revista tinha uma edição de 11.000 exemplares. Em 1938 tinha ascendido a 26.000. Teve um sucesso semelhante com um pequeno calendário missionário para crianças, e outro para as famílias.
Como o Pe. Kubista contribuiu também com numerosos artigos nestas revistas todas, era bem conhecido como escritor também. Exerceu grande influência levando as preocupações missionárias ao público em geral. Interessava-se também pelo valor de outras culturas e em isso antecipou-se ao seu tempo. Devido a este interesse, escreveu um drama missionário sobre os incas do Peru, titulado “A Cruz e o Sol”. E até desenhou o cenário e as vestes para usar nesta obra.
Sua actividade de comunicador ficou detida com o início da guerra. Sua vida é o eco da tragédia do povo polaco. Cedo foi submetido a prisão domiciliária em Górna Grupa. Ali observou impotente como sua gráfica era desmantelada e as máquinas assim como o papel e reservas de material foram levadas a outro lugar. Seu trabalho ficou destruído. O dia 5 de Fevereiro de 1940 foi levado ao campo de concentração de Stutthof. Passados dois meses foi enviado a Sachsenhausen, e viver sob tratamentos brutais e trabalhos forçados. Mas até nessas circunstâncias mostrou-se gentil, modesto, sereno e interessado pelos outros, como testemunham os colegas que sobreviveram a essas brutalidades todas.


Por Padre João Ladeira
Provincial SVD Angola

LUÍS LIGUDA - (1898-1942) - Missionário e Mártire SVD
Educador e Director Espiritual

Não sabemos muito acerca da morte do Pe. Luís Liguda. Segundo testemunhas oculares morreu afogado junto com outros nove colegas o dia 9 de Dezembro de 1942, no campo de concentração de Dachau. Mas o seu calvário foi longo, pois teve que suportar quase três anos de sofrimento antes de morrer.
Foi arrastado em Górna Grupa em Fevereiro de 1940 e passou por dois campos de concentração diferentes – Stutthof e Sachsenhausen – antes de vir a cair em Dachau. Suportou trabalhos forçados, fome, zurras sem fim e outras violências do género, mas sua presença foi um apoio para os outros prisioneiros. Seu espirito de tranquilidade e seu sentido do humor ajudaram a muitos a suportar a brutalidade do campo de concentração. Até nas situações mais radicais, encontrava palavras de alento ou uma anedota para partilhar com os outros. Permaneceu fiel a sua vocação religioso-missionária no meio de torturas e desapreço da dignidade humana até ao seu martírio.
Luís Liguda nasceu em Winòw, não longe de Nysa. Era o sexto de sete irmãos. Sua família era profundamente religiosa, o que exerceu grande influência na hora de discernir sua vocação, de modos que aos 15 anos entrou no Seminário Menor. A Primeira Guerra Mundial interrompeu sua formação sendo chamado ao serviço militar. Combateu em Flandes e França, e no fim da guerra tinha o grau de Sargento. Depois da guerra voltou a Nysa para terminar os seus estudos. Em 1920 iniciou o seu Noviciado SVD em S. Gabriel, Áustria. Ao emitir os Votos Perpétuos pediu ser destinado a China ou a Papua Nova-Guiné, mas os seus superiores acharam por bem deixa-lo na Polónia, onde regressou em 1928, um ano depois de sua Ordenação.
Antes de fazer os Votos Perpétuos em 1926, seu Prefeito escrevia sobre ele: “Sua capacidade intelectual é muito boa. Poderia ser idóneo para a actividade docente”. Não surpreende portanto, que fosse destinado para o ensino. Depois de receber a nacionalidade polaca e superar os exames de admissão à Universidade, estudou literatura polaca e história contemporânea. Seu estágio fez no Seminário Menor de Górna Grupa. Era muito apreciado por sua actividade docente, que sempre gostou muito. Seus estudantes de Górna Grupa recordam-no como um bom professor, amável e sempre bem preparado. Um deles escreveu que sempre o recordava com agrado como alguém “que costumava aportar alegria, um sorriso e sossego na turma”.
Além de sua pesada carga no ensino, com frequência pediam ao Pe. Liguda para dar palestras espirituais assim como servir de confessor em várias comunidades religiosas. Era conhecido e estimado como mestre de retiros e director espiritual. Já no início de seu primeiro destino missionário, desejava dedicar-se á pregação de retiros. Algumas de suas conferências e homílias foram publicadas e continuaram a exercer influência sobre os nossos jovens durante muito tempo, até depois de sua morte. Nos seus primeiros anos de Górna Grupa publicou “Audi Filia” – “Escuta filha” --, uma colecção de homílias dominicais para estudantes de ambos os sexos de escolas médias. Foi uma espécie de best-seller na altura. Seguiram outros dois livros: “Chleb i Sól” – “Pão e Sal” – e “Naprsód i Wyżej” – “Adiante e acima” --. O Pe. Luís era também ciente da importância da formação na vida religiosa, e tinha um interesse particular pelo apostolado entre os jovens. Seu carisma e sua preparação intelectual ajudaram-lhe a ter boas relações com os jovens.
Tinha também uma notável sensibilidade pela justiça, e era conhecido por defender outros que se encontravam em situações desesperadas. Nos campos de concentração não teve medo em continuar esta defesa do outro, o que lhe procurou naturalmente golpes e zurras assim como outras punições mesmo sádicas. Tinha 44 anos quando morreu, o mais velho destes nossos quatro irmãos mártires.

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